terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Voto é afeto

O voto é o resultado da articulação dos afetos e dos desejos; sua racionalidade está no domínio da emoção. A cidadania sofre a ação dos desejos declarados ou não ditos, sendo em sua concretude racional diária incapaz de agir sobre os sentimentos. Analisar o porque do voto, nos traz uma dualidade; pois procuramos cálculos políticos nas escolhas e a decisão de fato está vinculada ao terreno movediço das paixões.

A emoção, mais que a razão, opera a formatação da interioridade de cada eleitor, sendo o ato de votar a expressão mais profunda de uma verdade passionalizada pelo desejo. O voto no mundo da política real é a materialização da fantasia. O voto é um ato de prazer, de ódio, de desprezo, de felicidade, de depressão ou de euforia.

O voto é a manifestação palpável de dimensões afetivas subjacentes às relações políticas visíveis na racionalidade aparente das práticas de governo e Estado. O voto é um agradecimento, uma vingança, um pedido de perdão ou de socorro. O voto é um emblema de esperança. Seu simbolismo está no poder real de fundar uma nova ordem afetiva para os sentidos diários da vida do eleitor. O voto é uma catarse.

O voto tem uma lógica eminentemente afetiva, construída na subjetividade do eleitor a partir de um arsenal de artifícios, de manobras e representações do imaginário social e dos sentidos. O voto é uma estratégia da emoção. E muitas vezes uma cilada dos desejos. O voto é então uma forma acabada de afeto, incubado por sofrimentos, gratidões, êxtases e alegrias. Votar é fazer do devaneio realidade política.

O voto está muito além do realismo político; ele é o momento em que se produz a transmutação dos sentidos represados na alma em gozo.

O voto é o acontecimento de um sonho.

(*) Sociólogo, Cientista Político e Coordenador do novo curso da Fundação “Eleições Municipais: Saber para Vencer”

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