quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Para Eliseu Padilha, comandos dos partidos estão "fraturados"

Para Eliseu Padilha, comandos dos partidos estão "fraturados"
Até recentemente peça central da articulação política do governo, o ministro de Aviação Civil, Eliseu Padilha, disse continuar com a mais absoluta convicção de que vaca não está reconhecendo bezerro no Congresso Nacional.

''Nesse cenário, qualquer previsão sobre o que vai acontecer, desde impeachment da presidente a votação da CPMF ou outros temas, é simplesmente aleatória'', disse Padilha. ''Estamos vivendo neste momento muita dificuldade para a articulação política, à medida que se queira contabilizar quanto votos tem a favor da tese a,b, c e d'', disse ele, em entrevista em Moscou, onde acompanha o vice-presidente Michel Temer.

Para Padilha, mapeamento sobre voto contra a favor no Congresso, pelo Palácio do Planalto, é muito útil para orientar a ação do governo, mesmo se o resultado não lhe seja o esperado. 'Falo no genérico, mas vai envolver todos os temas.' O ministro avalia que a espinha dorsal do comando dos partidos está fraturada e não corresponde às expectativas, daí a frequência de derrotas do governo impostas também por sua base de sustentação.

'As lideranças hoje não comandam, os parlamentares estão insatisfeitos e agora há mais um elemento para complicar', nota o ministro. 'Quando o governo tem alto nível de popularidade, há uma tendência de o parlamento querer estar na foto com o governo. Quando a popularidade baixa, a tendência é de o parlamentar buscar o diálogo com a sociedade, que é sua sustentação e sobrevivência'', diz Padilha.

Esse diálogo é que faz com os parlamentares reajam contra o pacote que o governo acaba de anunciar: ''O parlamentar sabe que sem equilibrar as contas o país não tem solução, de forma implícita ou por conhecimento. Mas como o horizonte é da sobrevivência política, a tendência é dialogar com a rua, que não está vendo com bons olhos as ações do governo''. Para Padilha, a tendência é jogar com a rua. ''Daí porque é particularmente aleatória qualquer previsão sobre o que vai acontecer no Congresso. Hoje o que a gente sente é a necessidade de garantir a sobrevivência.'' Ele destaca que se faz política com um dos dois instrumentos: verba ou verbo. ''No caso do primeiro, o Brasil tem crise fiscal generalizada. E o verbo é falar o que as pessoas querem ouvir, o que neste momento não é o que os políticos em geral podem fazer.''

Depois de ter saído com Temer da articulação política, Padilha ainda se ocupa de concluir trabalhos sobre verbas de emendas parlamentares, incluindo RS 2,8 bilhões para 5 mil obras ainda de anos anteriores e não liberados até hoje.

Segundo o ministro, quando retornar da viagem a Moscou e Varsóvia, Temer vai reunir as lideranças do PMDB para se posicionar publicamente sobre as medidas propostas pelo governo para ajustar as contas públicas.
''Acho que o vice-presidente Temer não vai externar nenhuma posição sem ouvir o partido'', afirmou Padilha. De um lado, os problemas do governo são também problema dele, como vice-presidente. De outro, Padilha lembra que Temer não pode cortar o cordão umbilical com o PMDB, pois é o presidente do partido
.
Nessas circunstâncias, Temer vai levar o tema ao partido, e ver como poderá contribuir para que o governo consiga resolver essa questão dificílima de equilibrar suas contas com alguma rapidez.

O vice-presidente tem falado por telefone com as lideranças em Brasília e quando retomar ao Brasil vai certamente conversar com todos os principais líderes e possivelmente reunir a executiva nacional do partido, na semana que vem, diz Padilha.

Para o ministro, a questão não é exatamente de ser contra. Ao seu ver, a manifestação do presidente do Senado, Renan Calheiros, traduz melhor o sentimento hoje no PMDB. Primeiro, não vamos ainda discutir o que não se conhece. Ninguém sabe a extensão efetiva da reforma administrativa, com corte de ministérios e cargos comissionados, e o quanto tem de ser coberto por impostos.

Em sua passagem por Varsóvia, Temer novamente esquivou-se de perguntas sobre o pacote com a seguinte frase: Cada meia palavra que digo pode ter um significado equivocado. Já Padilha repetiu declarações feitas em Moscou e pediu 'sensibilidade política' do governo na negociação com o Congresso. 
(Assis Moreira com colaboração de Daniela Fernandes)

Fonte: Jornal Valor Econômico - www.valor.com.br - Data: 17/09/2015

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