Apesar do risco de cassação do presidente Michel Temer pela
Justiça Eleitoral e de uma eventual delação do ex-assessor Rodrigo da Rocha
Loures (PMDB-PR), o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha disse que a crise
política "está se dissolvendo". Em entrevista ao Gaúcha Atualidade,
na sexta-feira, o peemedebista minimizou o turbilhão causado pela gravação do empresário
Joesley Batista com o presidente Michel Temer. Padilha manteve o tom adotado
pelo presidente para desqualificar o conteúdo da gravação.
“O governo está tendo vitórias e vitórias no Congresso,
mostrando que sua base segue forte e firme. Não posso deixar de admitir que
haja crise, mas, que já foi muito mais forte, é indiscutível.”
O presidente não teme nenhuma delação porque, primeiro, não
há o que temer, e, segundo, ele acha que o deputado vai manter esse perfil
ético. Não há nenhum tipo de preocupação de que possa existir algo que tenha de
ser explicado depois pelo presidente.
De que forma a crise
está saindo tratada no Planalto?
Tivemos a gravação de uma fita que tem, para um perito, 50
edições, e, para outro, 70. Significa dizer que foi uma montagem. Essa fita foi
usada como pressuposto para se partir para uma série de acusações contra o
presidente Michel Temer. Como o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que
se fizesse uma perícia nesta fita, enquanto não tiver sido periciada, tudo que
nela diz permanece como absoluta sombra. As edições que possivelmente serão
comprovadas na perícia comprometem por inteiro a credibilidade da fita. Em uma
edição, pode se transportar de um ponto para outro determinada expressão ou
frase que muda completamente o contexto
É incontestável que o
presidente recebeu, na calada da noite, um empresário que depois ele mesmo
definiu como um salafrário, deu poder a Rocha Louros para ser o interlocutor do
governo e esse deputado foi flagrado recebendo uma mala de dinheiro. O senhor
não considera isso grave?
O presidente é um homem oriundo do Legislativo. Foi três
vezes presidente da Câmara, mais de 20 anos deputado federal, e normalmente à
noite há conversas que se estendem até a madrugada com os mais variados
interlocutores. Nesse caso, foi referido um, mas ele falou com outros
empresários e autoridades no Jaburu. Não é algo singular.
Deveria ter recebido?
Aí, é uma questão de
juízo personalístico dele.
O presidente se
arrepende de ter recebido Joesley?
Na intimidade, ele diz que, nesse caso, desse empresário,
deveria ter tido mais cuidada Mas já passou.
O presidente não
entendeu uma série de irregularidades no momento em que Joesley diz que
"encostou" um procurador da República?
Ele diz que tinha o Joesley como alguém que falava demais. Um
falastrão, nas palavras dele. Ele não levou a sério aquelas informações que
estavam sendo feitas.
O governo teme sana
delação de Rocha Loures?
O presidente se relacionava com o deputado há 10 anos, Conhece
ele, sua origem, vem de uma família de posses, uma pessoa que tem formação
inclusive no Exterior, e que se mostrou profundamente educada. O presidente não
teme nenhuma delação porque, primeiro, não há
que temer, e, segundo, ele acha que o deputado vai manter esse perfil
ético. Não há nenhum tipo de preocupação de que possa existir algo que tenha de
ser explicado depois pelo presidente. Na conversa com Joesley, ele poderia ter
indicado qualquer um dos seus assessores, mas indicou Rodrigo, que iria ouvir
possíveis reclamações. Ele disse que tinha de tratar de assuntos do Cade (Conselho
Administrados de Defesa Econômica) e de outros órgãos do governo, e o
presidente, para fugir desse contato, indicou o Rodrigo.
O senhor não se constrange
em permanecer na Casa Civil mesmo sob investigação?
Essa é uma questão da Presidência da República. Investigação,
em principio, não é nenhum tipo de condenação. Isso não leva a impossibilidade,
e o presidente tem dito que os ministros merecem a confiança dele. Então,
continuo como ministro.
O senhor é citado em
delações como a pessoa que negociava doações de caixa 2 para o PMDB. O que o
senhor diz?
Por orientação dos meus advogados, não devo comentar
publicamente os fatos que estão sob investigação. Não será discutindo por
veículos de comunicação que vou ajudar o processo de defesa.
O governo renovou a
medida provisória para manter o foro de Moreira Franco, Isso não é obstrução de
Justiça?
O ministro Moreira Franco estava no governo. Não tinha status
de ministro, mas tinha uma função. Era o condutor do programa Crescer, agia
como se ministro fosse. Então, a elevação do cargo foi dar a um fato uma
cobertura jurídica. O fato de nomear um ministro não significa obstrução de
Justiça. Ele apenas passa a usar o foro por prerrogativa de função.
Mas quando Dilma Rousseff tentou nomear Lula seu ministro,
interpretou-se, inclusive os senhores, que eram oposição, como obstrução de
Justiça.
Não era obstrução, era elevar alguém a um cargo que tem a
prerrogativa. Mas a situação do presidente Lula é completamente diferente de
Moreira Franco, que estava dentro do governo, fazendo ações como se ministro
fosse. Lula não, ele estava fora e iria entrar no governo.
Por que o deputado Rocha
Loures carregava uma mala com R$ 500 mil?
A versão que nos chegou é que ele caiu em um engodo. Foi
preparado um processo em que ele caiu, não se deu conta de que estava sendo
usado. Foi uma montagem. O objetivo era obter a filmagem.
Por que recebeu o
dinheiro?
E uma questão que não sei.
Mas o Planalto não
buscou uma explicação, já que ele era um aliado?
Ele era um aliado, mas o Planalto não pode sair atrás de
explicação dos atos de cada uma das pessoas que trabalham no governo e que não
dizem respeito a sua atuação como representante do governo.
Já se fala sobre a
possibilidade de a Procuradoria-Geral de República (PGR) apresentar denúncia
contra Temer. Se isso acontecer, ele terá condições de continuar governando?
Na apresentação, essa denúncia tem de ser recebida também
pela Câmara dos Deputados. Primeiro, ela é apresentada para o ministro (Edson)
Fachin (relator da Lava-Jato no STF), que pode recebê-la ou não. Se ele
receber, para que o presidente da República possa ser processado, tem de ser
autorizado (o processo) pela Câmara dos Deputados. Dois terços da Câmara têm de
aprovar essa medida e, então, a partir dai é que agente pode pensar em ter
legitimidade ou não ter. Enquanto isso não acontecer, não se discute a questão
de legitimidade. Essa denúncia, tudo indica, será baseada nesses elementos
dessa fita. E vamos dizer mais uma vez, essa fita ainda se encontra sob perícia
por determinação do Supremo Tribunal Federal. Todo episódio nasceu com essa
fita e, na medida em que temos essas gravações sendo periciadas, enquanto não
estiver concluída a perícia, ela (a fita) está sob suspeição.
Na terça-feira, o TSE
retoma o julgamento da ação do PSDB que pede a cassação da chapa Dilma-Temer. O
senhor está convencido de que esse julgamento se encerra ou que um ministro
pedirá vista?
Temos de deixar que o Poder Judiciário se manifeste na sua
mais absoluta autonomia. Qualquer opinião que emitir, como membro do governo,
pode dar a falsa impressão de que tenho essa ou aquela opinião.
O senhor tem convicção
que o governo Temer termina 2018?
Termina. Primeiro, o governo segura porque a crise política
está se dissolvendo. Veja as votações que tivemos na Câmara, onde aprovamos
sete medidas provisórias. No Senado, continuou o trabalho e conseguimos
resolver a questão da discussão na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) sobre
a reforma trabalhista. O governo está tendo vitórias e vitórias no Congresso,
mostrando que sua base segue forte e firme. Não posso deixar de admitir que
haja crise, mas, que já foi muito mais forte, é indiscutível.
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