segunda-feira, 6 de julho de 2015

Eliseu Padilha fala sobre candidatura própria do PMDB

Eliseu Padilha: "Neste momento, nome não é o mais importante. O mais importante é definir propostas".
O flerte de parte do PMDB com o antigo aliado PSDB é o novo componente no casamento conturbado da legenda do vice-­presidente Michel Temer com o PT. A aliança vitoriosa em 2010 e 2014 parece caminhar para o fim. Falta definir o momento da separação.

Por trás das costuras estão o projeto peemedebista de permanência no poder e a candidatura própria ao Palácio do Planalto em 2018. O grupo de Temer, que também preside a sigla, prega calma. Principal aliado do vice, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, sugere que o desembarque do governo Dilma Rousseff deve ser deixado para depois das eleições municipais, em 2016.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), cobra a saída imediata de Temer da articulação política do Planalto. Uma das reclamações está relacionada à demora na liberação de emendas parlamentares e cargos acertados com a base para viabilizar a votação do ajuste fiscal no Congresso. Cunha chegou a falar que o vice é “sabotado” pelo PT.

Nos bastidores, há conversas com tucanos. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves (MG) foram sondados por representantes do PMDB sobre apoio a um eventual governo Temer em caso de afastamento de Dilma. Padilha afirma que a cúpula peemedebista não participa dessas conversas e prega o sucesso da gestão Dilma.

Setores governistas e da oposição trabalham com a possibilidade de o vice assumir a Presidência ou com a realização de novas eleições. A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as “pedaladas fiscais” e o desfecho da Operação Lava-Jato alimentam a esperança tucana.


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, defende a saída de Michel Temer da articulação política. O senhor concorda?

Houve uma vitória nas votações do ajuste fiscal sob a coordenação de Michel Temer. Então, por que Eduardo Cunha fez essa afirmação? Porque ele tem o registro mais forte das insatisfações internas do PMDB. Para o Michel, presidente do PMDB, e para mim, essa insatisfação é trazida de forma moderada. A fala de Eduardo corresponde a um segmento do partido, que penso ser minoritário.

PT e PMDB discutem a aliança. A frase de Cunha mostra desejo de sair do governo?

Eduardo reverberou um sentimento que cresce no partido. O PT procura construir sua frente de esquerda, absolutamente legítimo. De outra parte, é mais do que compreensível que o PMDB também tenha o seu projeto de poder, tanto para 2016 quanto para 2018. Todos os peemedebistas da base querem candidatura própria à Presidência. Isso fará com que o PMDB, de forma transparente, trate o assunto com o PT e a presidente.

Quando deixar o governo?

Temos segmentos no PMDB com posições diferentes. Eu, que dialogo todos os dias com os dirigentes do partido, entendo que até o final da eleição municipal teremos de ter o assunto definido.

Pode existir um desembarque após as eleições de 2016?

É a teoria que defendo. Temos várias correntes no partido: uma, reverberada por Eduardo, defende o desembarque imediato, outra pensa que o congresso do PMDB, em setembro ou outubro, seria a hora da saída. Para a maioria, o desembarque deve ocorrer depois das eleições municipais.

O PMDB trabalha com a hipótese de Dilma ser afastada?

É inegável que alguns segmentos do PMDB trabalham com a hipótese de afastamento da presidente. A cúpula, representada por Temer, não participa de tais debates e não comunga de tal opinião, porque defende a continuidade na articulação política e, por consequência, a manutenção e o sucesso do governo da presidente Dilma.

As conversas com tucanos, como José Serra, mostram que PSDB e PMDB se aproximam?

Desde 1966, ainda como MDB, o partido nunca teve tanto protagonismo político: tem a batuta na Câmara e Senado, responde pela articulação do Executivo com os demais poderes. A base quer candidatura própria. Já o senador Serra busca aproximação com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, a bancada do PMDB no Senado, com quem tem feito parcerias legislativas. Ele já conversou comigo, mas sobre projetos. Ele apresentou projeto para que Estados e municípios usem depósitos judiciais, o que já ocorre no Rio Grande do Sul, e pediu minha opinião.

Quem seria o presidenciável do PMDB? Cunha está na fila.

Neste momento, o nome não é o mais importante. O mais importante é definir as propostas para galvanizar o sentimento da sociedade brasileira por eficácia dos serviços públicos e retidão absoluta de conduta dos gestores.

O senhor fala em retidão. Os nomes do partido investigados na Lava-Jato estariam fora da lista de presidenciáveis?

Não. A Constituição diz que, antes da sentença condenatória, todos são presumivelmente inocentes. Se imaginássemos que todas as pessoas contra as quais haja algum tipo de investigação não pudessem participar da vida pública, a Esplanada dos Ministérios ficaria quase deserta. Sempre existe algum tipo de investigação. Em cerca de 95% das vezes, as investigações não têm condenação final no que tange à parte criminal.

A forma como a redução da maioridade penal foi aprovada, com virada de votos, mostra que Cunha controla a Câmara. Isso dificulta a articulação do Palácio do Planalto?

Ninguém tem dúvida da qualificação de Eduardo, que maneja como ninguém as brechas regimentais. Quando se trata do interesse do Brasil, ele tem sido parceiro. Dentre as autoridades com responsabilidade, ele deixou claro que não admitiria processo de impeachment contra a presidente. No ajuste fiscal, não há dúvida de que a condução dele foi fundamental nas nossas vitórias.

Renan Calheiros também desafia o palácio, como no episódio da aprovação do aumento salarial para os servidores do Judiciário. A articulação no Senado está tão difícil como na Câmara?

Ele também contribui no ajuste fiscal. A votação do aumento estava pautada havia meses, o governo iniciou uma negociação com os servidores que estancou. Eles lotaram as galerias e exigiram que a pauta fosse votada. Renan não teve influência no resultado, que é negativo do ponto de vista do governo, mas compreensível sob o ponto de vista do parlamento.

Quando o governo está fraco, a relação do Planalto no Congresso fica delicada. É o caso da presidente Dilma?

Quando a rua cresce, o governo decresce. Se há reprovação em relação ao governo, o parlamento tende a acompanhar o interesse da rua. Numa figura mais simples, os parlamentares preferem tirar foto ao lado do povo do que com o governo, que tem nível de aprovação inferior.

A presidente tem 9% de aprovação, segundo as recentes pesquisas. Pode cair mais?

Temos de analisar sob outro ângulo. O governo toma medidas para que o país volte a conquistar a confiança dos investidores? Sim. Foram lançados plano safra, com números singulares, plano de exportação, programa de concessões. A avaliação positiva vai acontecer na medida em que a sociedade perceber as iniciativas que trazem oportunidades de emprego e renda.

O vazamento da delação do empresário Ricardo Pessoa com o nome dos ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Comunicação Social, tirou o brilho dos anúncios da presidente?

Uma coisa é a Lava-Jato e outra coisa é o governo. O governo não pode parar, tem de continuar independente da Lava-Jato. A citação ocorreu em uma delação que ainda não foi tornada pública. Ouvi as explicações dos ministros e vi que tinham fundamentos. A rotina continua. Recebi em um dia 40, 50 parlamentares, e ninguém falou em Lava-Jato.

O senhor foi atuante na articulação do governo FHC e repete o trabalho com Dilma. O Congresso mudou muito?

Muito. No Congresso, estamos no ponto da vaca não reconhecer o bezerro. O que quero dizer? Há 18 anos, os líderes partidários assumiam compromissos que eram honrados por toda bancada. Conhecíamos as defecções e fazíamos cálculos precisos nas votações. Hoje, não tenho condições de fazer isso. Os partidos se multiplicaram, houve fracionamento das lideranças e do poder de liderar.

O Congresso ficou mais fisiológico nos últimos anos?

Depende do que a gente interpreta como fisiológico. O Congresso sempre gostou de ter cargos no governo e de ver a liberação de emendas. Para mim, isso não é fisiologismo. Tem lei que regula, é eticamente sustentável, politicamente conveniente e democraticamente aplicável.

Mas os cargos são negociados.

Buscar cargos no governo é uma forma, em tese, de contribuir com a administração. Há 18 anos, não se indicava para o sistema financeiro nos Estados (como bancos públicos), o IBGE, o Inmetro. Hoje, os partidos têm uma tendência de tentar indicar o máximo de cargos nos Estados.

Lula disse que o PT só pensa em cargos. O senhor, que recebe pedidos, confirma?

O PT busca cargos como os demais. O PT viveu a vantagem de ter por três mandatos presidentes com popularidade na estratosfera. Habilmente, consolidou mais cargos. Com a nova correlação de forças na Câmara e Senado, ocorre a partilha mais ou menos na proporção da participação, deixando ainda uma vantagem considerável para o PT.

Fonte: Zero Hora - Página 10 - 06/07/2015 

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